domingo, 14 de fevereiro de 2010

Feito lantejoulas.

As Moiras resolveram tecer a fantasia de carnaval com os fios de meu destino. Cambalhotas, reviravoltas, um zigue-e-zague colorido de emoções com grandes oscilações de humor. Fizeram no centro um amor em ponto cruz, perfurando profundamente diversas vezes. Nas bordas, babados ululantes que remetiam ao tempo de lamúria. Como forro, o vazio sempre foi o mais cabível.
Cortaram, rasgaram, costuraram e remendaram. Era festa, sempre. Então pintaram um sorriso permanente.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Esquizofrenia canibal

Devido aos seus enganos, o meu discernimento entre real e ilusão foi desfeito. Mais que nunca estava à flor da pele, e minha consciência íntima, alimentada pela fúria de vê-la partir novamente, tomou forma gigantesca, materializou-se fera. De tantas quimeras destruídas, tornou-se uma, que me persegue incessantemente e devora-me dos pés a cabeça. E sanidade vai embora em cada auto-reconstituição.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Quando o sol nasce

Pequeno e singelo, quase irreconhecível. Provavelmente por timidez e falta de hábito.
Ri também minimamente, encabulado. Era bom encontrar seu sorriso após tanto tempo a procurá-lo em sua face
Então, ao nos despirmos das cerimônias, sorriu abertamente mostrando seus dentes, já amarelos pelo café e cigarro em excesso. Vícios adquiridos na fase escura, onde o buraco negro te sugava por dentro.
Ao alargar meu riso, você se afasta com asco, e recordo-me imediatamente o porquê não havia mais gargalhadas em mim.
Infelizmente, o período de sua abstinência foi suficientemente longo para perder minha dentição, e agora apenas exibo essas gengivas nuas e pútridas.
E seus lábios novamente se fecham, você vai embora. Foi bom revê-la, a sua felicidade.

domingo, 11 de outubro de 2009

Existência ínfima

Ser tão simples quanto um grão de areia, e em qualquer brisa ser levado. Sem essa confusão de fios, que nos embaraçam separadamente em novelos de neurônios. Um micro-organismo unicelular com meros extintos, sem sentimentos complicados que façam varar à noite remoendo idéias pungentes. Destituir desse sorriso a complexidade de ser feliz, e transformá-lo em um ato habitual que faça da alegria algo banal.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Íris

Deveriam ser brancos, e não castanhos. Assim meus olhos
exprimiriam melhor o vazio imensurável existente em mim.

Polígono de inúmeros lados

A lapidação de suas palavras não foi suficiente para a retirada de todas as arestas, e me feriram como flechas traspassadas em minha cerne.
Porém, o que me resta de essência intacta é o suficiente para prostrar-me novamente à sua frente, em um lapso de loucura, e tentar enfrentá-lo em sua linha de tiro. Só espero, sinceramente, que tenha piorado a mira

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Fecham-se as cortinas.

Expurgava todas as vontades de ser no ato de representação no palco.
Quando, finalmente, a miscigenação perpétua que há muito era latente, aconteceu. Tornou-se todas. Lasciva, santa, afetadamente feliz, um traço indefinido.
Em meio a ofuscação de tantas faces, apenas aquele som estridente do sino fazia recordá-la de sua matéria prima. Uma forma de escapismo do turbilhão, a única maneira de manter-se sã.
E com um esboço de sorriso, ao final do ruído, some em si novamente.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Apetite

Queria um pouco mais. Não que eu seja muito, ou exigente, mas é que suas migalhas não saciavam minha fome de você.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Laços

- Então acabou?! Não falará nada? - você diz.

Esse meu vínculo que pensava ser inquebrável, rompeu-se. Ocasionando essa lesão interior que tanto dói. Logo, ao partir, levará contigo todas tralhas emocionais que construimos. Demolirá o alicerce de quimeras. Provavelmente desconhece o tempo que se faz necessário para reconstrui-las, e se souber, pouco importa. O que me fere, na verdade, não é a solidão, o abandono ou essa dor incessante, mas esse vazio deixado ao tirar seus pertences. De mim.
Agora, fico desnorteado entre os dejetos de nossa relação frustrada que são despejados em mim em abundância. E o orgulho que me guarda, e mede, restringe-me apenas:

- Não direi - Disse, por fim.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

E fora do padrão

Havia quebrado e não havia mais peças à venda para repôr. O romantismo ficou ultrapassado, a nova tendência era o minimalismo pessoal.
Assisti, no mesmo dia, um vhs com um filme do Hitchcock.
Prefiro ser vintage, é chic.