segunda-feira, 27 de abril de 2009

Fantasia

As cores distorcidas confundiam sua visão. O caos calmo era surpreendemente tentador. Criaturas incríveis, surreais, apareciam de seus sonhos mais infantis. Todos seus amores criam vida e retornam, refazem e re-a-amam.O suor escorria por entre os seios, descendo ao seu sexo, umidecendo-o. A noite vira dia, e não é o sol que nasce, mas uma fada que a leva para o neón ofuscante. Êxtase, felicidade e gozo.
Acharam-na em um banheiro público, e em seu braço uma seringa contendo nostalgia e heroína. Morreu de overdose.

Circo

Finalmente as luzes do circo são acesas.
Inicialmente a bailarina dança e rodopia, rodopia, em um círculo interminável. A trapezista salta, com giros mortais. O domador enfrenta leões vorazes.
O palhaço batalha contra a tristeza, tentando implantar ao menos um sorriso. A platéia vibra, gargalha. Ela o ama.
As luzes se apagam. Do burburinho dos comentários tecidos pelas crianças ouve-se apenas sonhos de trapezistas, bailarinas e domadores. Dos adultos apenas resta um fio daquele sorriso que lhe fora entregue pelo palhaço, seu herói.

Descarrego

Chuto a porta. A televisão ligada e nela moças e moços bonitos desfilam em casas bilionárias, em um paraíso, construindo uma felicidade inalcançável para uma maioria. Desligo-a com um soco, rachando a tela. Ligo o som no máximo, gritaria e urros miscigenam-se com meus sentimentos frustados. A cadeira espatifa-se na parede adjacente ao quarto. Ela ainda não acordou, em seus devaneios sorri e nesse momento minha raiva é focada naquele ínfimo gesto de alegria. Com a base do abajur, esmago seu crânio. Naquela noite ainda cometerei 2 atropelamentos devido à uma bebedeira tardia.
No final, terei que lamentar a derrota de meu time na cadeia.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Perfeccionismo

Sua casa era reluzente, com seus ladrinhos brancos e seus quadros pendurados e perfeitamente alinhados. Seus móveis simétricos, com a mesa de centro milimetricamente posicionada, era tudo inquietantemente regular. Infelizmente era apenas o exterior, pois em seu coração havia o caos.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Fobias

A claustrofobia era um de seus maiores medos e por isso não aceitava dividir espaços muitos pequenos com outras pessoas, como o coração. Tinha síndrome do pânico, não saia, não recebia pessoas. O medo de altura não deixava ser elevado pelos seus sonhos, então seus pés cansados de tanto andar falharam e ele caiu. Permaneceu no chão temendo cair novamente e consequentemente foi pisado várias vezes. Um dia ele conheceu a cura, ela andava sobre duas pernas e tinha braços para carregá-lo e levantá-lo.
Hoje ele é feliz.
A música serve como amplificador de sentimentos. As vezes eles crescem tanto que eclodem pelos olhos, como lágrimas.

domingo, 12 de abril de 2009

Na cidade

Carlos estava sentado em sua calçada costumeira. As pessoas passavam e não o reparavam, como sempre. Estava com fome, com frio, solitário e sujo. O cheiro de álcool, urina e sêmen eram insuportáveis. Sua mão caleijada e encardida formava uma concha para poder recolher as moedas que eram oferecidas, mas não havia muito o que segurar. O sol ia se pondo e sua barriga roncava, sentia dores lancinantes em seu estômago vazio. Quando escureceu, levantou-se, parou no primeiro bar, embriagou-se e dormiu bem.

sábado, 11 de abril de 2009

Procura-se

Joana acorda e daquele mesmo jeito, inchada e descabelada, vai à padaria. O padeiro, o atendente e os homens que transitam olham para sua bunda. Ao chegar faz sua refeição matinal, toma banho, veste-se, e em seu trabalho seu chefe e colegas olham para seus peitos. A noite, Joana coloca seu melhor vestido, seu melhor salto e sai com suas amigas. Todos os homens que passam olham para sua bunda e peitos. Exausta, ela entra na internet em busca de alguém que não queira apenas seu corpo, porém no chat todos os rapazes com quem conversa a convidam para mostrar-se nua pela web cam. Ela desliga o computador em um ápice de raiva, deita em sua cama e sonha com um homem que a olhe nos olhos.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Suicídio ?

A porta estava trancada por dentro, as janelas estavam fechadas, não havia sinal de luta e nem outras digitais naquele cômodo. No chão, jazia o corpo de uma jovem, seu rosto inchado, irreconhecível. Em cima da mesa um copo, um lápis, uma folha de papel manteiga e lágrimas compunham o ambiente. Tudo indicava suicídio, se não fosse um pedaço de papel que crepitava na lareira com os dizeres, "nao a amo mais". Enfim, mas um caso de assassinato sentimental.

Felicidade

A felicidade está em um degrau tão alto que precisamos de outra pessoa para nos ajudar alcançá-lo

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Namoro contemporâneo

O sino da igreja toca. Joana corre para a janela a espera de seu novo "amor". Ele chega em uma moto amarela, que buzina. Ela corre, abre a porta, segura-o em seus braços e leva-o para seu quarto, trancando. Começa a despir-se calmamente, como em um ritual. Finalmente masturba-se e o ato sexual é consumado. Ao término, recoloca-o na caixa, guarda em sua gaveta, escondendo-o debaixo das roupas.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Concupiscência

Suor, gemidos, tremores, sussuros, sangue e por fim, relaxamento.

Esses são os sintomas do veneno de uma aranha.

Crime amoroso

Sobre suas pernas estava um álbum de retrato velho, e com a tesoura ela rasgava as fotos de um passado que nao existia mais. Em seu corpo haviam marcas de luta, sua perna estava dilacerada, mas não tanto quanto seu espírito. Sua alma estava oca, o que era perceptível em seu olhar.
Estava nua, havia acabado de sair do banho, suas lágrimas haviam lavado todo o rancor, sujeira, vestígios, ódio, ira e sangue. Sobrava apenas arrependimento de ter deixado chegar àquele ponto. De ter se entregue tanto à uma pessoa. A culpa não era dela, não mesmo. Havia sido provocada, instigada, excitada.
Ao recobrar seu juízo, ela vai ao banheiro, limpa as giletes, esconde o corpo e joga-o no rio.

D(efeitos) co(laterais) de uma nova de(coração)

Corações partidos fazem parte da decoração de meu quarto, mas infelizmente eles mancham com tinta vermelha, e não sai. Abro as janelas para o cheiro de acre, característico das frustrasções, saia do meu quarto, mas ele gruda em todos os objetos. Meu amor próprio mofou. O ócio fez com que minhas pernas atrofiassem, não consigo nem mais correr. E ainda existem pessoas que dizem que o amor vale a pena. Acho que ainda não leram os efeitos colaterais...

terça-feira, 7 de abril de 2009

Interação reação

Aprendi com pouco tempo de vida que devíamos desconfiar das pessoas. Sempre fiquei um pé atrás, com qualquer um. Porém, chega um dia que deixamos de ouvir conselhos. Pois é nessa hora em que ficamos vulneráveis, abrimos uma porta que não poderia mais ser fechada, nem com dores agudas e traumas profundos. Ficaria um portal aberto eternamente, onde sentimentos iriam entrar e sair, preenchendo-o ou não.
Como uma droga, sentiríamos necessidade e desejo de sentimentos, sensações. Crises de abstinência seriam dolorosas e extremamente úmidas, rios de lágrimas criariam vales que não sumiriam, deixando cicatrizes.
Todavia, ninguém me disse que meu choro fecundaria o chão, e que nele nasceriam plantas, flores e frutos. Esperanças mortas, sonhos enterrados e sorrisos apagados seriam restabelecidos. O malogro apenas serviria como um adubo para fecundar e fortalecer futuras relações. Nem sabia que apenas alguém de dentro poderia tapar a grande abertura existente em meu peito.
Tudo é cíclico, como as quatro estações, como o nascimento e morte, tudo recomeça. Como recompensa da superação ganhamos mais auto-confiança, experiência.
Aprender com os erros é um bem primordial e importante. As frustrações são barreiras TRANSPONÍVEIS. Faça de seu medo apenas como um cinto de segurança e não o deixe dirigí-lo.

Faça assim como eu, fale com estranhos. ;D