quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Laços

- Então acabou?! Não falará nada? - você diz.

Esse meu vínculo que pensava ser inquebrável, rompeu-se. Ocasionando essa lesão interior que tanto dói. Logo, ao partir, levará contigo todas tralhas emocionais que construimos. Demolirá o alicerce de quimeras. Provavelmente desconhece o tempo que se faz necessário para reconstrui-las, e se souber, pouco importa. O que me fere, na verdade, não é a solidão, o abandono ou essa dor incessante, mas esse vazio deixado ao tirar seus pertences. De mim.
Agora, fico desnorteado entre os dejetos de nossa relação frustrada que são despejados em mim em abundância. E o orgulho que me guarda, e mede, restringe-me apenas:

- Não direi - Disse, por fim.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

E fora do padrão

Havia quebrado e não havia mais peças à venda para repôr. O romantismo ficou ultrapassado, a nova tendência era o minimalismo pessoal.
Assisti, no mesmo dia, um vhs com um filme do Hitchcock.
Prefiro ser vintage, é chic.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Retomada

Fecho os olhos, e a beijo. Sua saliva tem um doce gosto de nostalgia, que me faz afastá-la. Estranho a falta de algo salgado, e percebo que dessa vez não há pranto.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Era

Era o fim. Esperava ao menos que removesse aquele escudo usado para proteção, mas nao o fez. Tinha esperança de encarar seus olhos desnudos, desprotegidos, e conseguisse ver enfim aquele sentimento verbalizado, mas o negro era mais que apenas a cor de sua retina, era o reflexo de seu interior. Nem lágrimas derramou. Dizia chorar por dentro, mas duvido que havia algo mais que a indiferença. Quando nossos sentimentos são intensos eles liquefazem a alma, que eclode; não há como conter. Apenas uma coisa permaneceu intacta, o silêncio. Era o meu fim.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Sua melodia

Com alguns nacos de madeira e um recipiente vazio fiz um armadilha, aprisionando-lhe. Queria ouvir seu canto matutino, diariamente. Porém, passaram-se dias e não havia mais som. Calou-se em protesto. Você queria liberdade o que fazia meu temor aumentar e reforçar as grades de seu cárcere, a ponto de não deixar nenhuma fresta, o que te sufocou. Havia ensandecido em meu egoísmo. Ouvia promessas de retorno, súplicas em desespero, e enfim acabei cansando. Gravei sua voz para os momentos de saudade, a fim de saná-la, e o libertei. Sua presença tornou-se esporádica, e até com isso me acostumei, com a falta. No final todos acostumam.
Peço-lhe calma, passarinho, estou juntando dinheiro para trocar sua gaiola por um quintal, um bosque, e quem sabe talvez um grande vale com montanhas e florestas. Só para tê-lo novamente.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Semionisciência.

Lia mentes, e achava que estava à salvo de ser enganado. Descobriu, já em pedaços, que coração dos outros é terra onde ninguém anda, ou lê.

Neosentimentalismo

Hoje tive vontade de chorar
Não por estar triste, nostálgico ou muito feliz. Na verdade, acho que um pouco disso tudo, uma enorme miscigenação sentida em súbito. Deveria existir um sentimento singular para o pranto, que não tivesse que coexistir, depender de outro.
Hoje estou choro.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Mitologia

Em uma noite perdeu-se em sua quimera, e até hoje não sabe se foi o leão, bode ou serpente que o engoliu por inteiro

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Sinais

Cansei de reticências, anseio algo menos vago e não tão drástico quanto um ponto final. Talvez alguém como um ponto-e-vírgula seja o suficiente para acalmar meus ânimos, e fazer-me pausar suficientemente. Mas enfim, sempre acabo na incerteza d'uma interrogação.

Desejo

A cigarra canta apenas uma vez, é o prelúdio de sua morte. Desejo que fôssemos como ela, porém nosso canto equivalesse a dizeres de amor. Enganar-nos-ia menos.

Otimismo

Não sou mais pessimista. Uma pessoa que perde um olho não passa a enxergar o mundo pela metade, então nao há porque fazer isso se tenho apenas uma parte, se a outra nao foi encontrada.

Canibalismo

E no final, quando estiver sozinho, e eu sei que estará, olhará para o espelho e não enxergará a si mesmo. O nada terá alimentado-se de sua carne, não deixando nem sua essência intacta.

Coleção

Colecionava amores, mas eles eram muito perecíveis e, com o tempo, tornaram-se escassos, defeituosos. Hoje junto selos que, ao menos, preenchem algo, como aquele álbum velho onde estavam suas fotos.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Desfecho

Em guerra, eles brandiam as espadas, que retumbavam como o trovão ao chocarem-se. Suas armas eram as palavras, que ao ditas, feriam como uma lâmina, e faziam-nos sangrar internamente. Com argumentos raivosos, e não-verdades, acertou em cheio o peito de seu adversário.E enfim o amor fora ferido e ambos perderam, perderam-se.

Saudade

Sinto uma saudade inexplicável de seus abraços, aqueles que nunca tive. Provavelmente minh'alma vagava em busca da sua enquanto eu adormecia, e ao encontrá-la, fundiam-se, tornando-se uma.

Rotina

Que sorte tem a Fênix de ressurgir do fogo. Lamento eu, ter que renascer todos os dias em um cárcere frígido onde a solidão e os sonhos malogrados me açoitam.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Obscuro

O sol me cega, queimando a retina. Mas é a luz da lua que ofusca minha alma e faz-me perder em ilusões.